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Atenção

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Após atentados de Paris, sociedade civil alerta que mudança climática não pode sair da cena

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Atentados em Paris mudaram o cenário político. O desafio para a sociedade civil é fazer com que a lógica do terror e da guerra não enterre a importância da luta contra a mudança climática. Na COP21 o governo francês manterá os eventos principais com medidas de segurança reforçadas, porém, grandes eventos a céu aberto foram cancelados
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No dia seguinte aos atentados de 13 de novembro em Paris, o ministro francês de relações exteriores, Laurent Fabius, acabou com as dúvidas sobre se haveria ou não a Conferência do Clima em Paris, entre 30/11 e 11/12. “A COP21 acontecerá com medidas de segurança reforçadas. Ela é uma ação indispensável contra a mudança climática”, disse. O presidente dos EUA, Barack Obama, confirmou sua presença após os atentados.

A França não abriu mão de um dos maiores eventos já organizados no país e da grande aposta diplomática do presidente François Hollande. A COP21 deve contar com delegações de 195 países, 120 presidentes e primeiros ministros e cerca de 40 mil participantes (saiba mais sobre o evento oficial).

A decisão de organizar o evento oficial em um bairro dos arredores de Paris chamado Le Bourget, longe do centro e perto do aeroporto internacional Charles de Gaulle, contribuirá para a adoção de medidas de segurança (veja o comunicado oficial sobre as medidas de segurança na COP21). Com o estado de emergência, qualquer grande evento a céu aberto está sendo cancelado. O governo francês anunciou o cancelamento das manifestações convocadas em Paris pela sociedade civil vinculadas à COP21 para os dias 29/11 e 12/12.

“Somos conscientes da gravidade da situação, porém, mais do que nunca vamos usar a criatividade para mobilizar e unir. Não existe COP21 sem mobilização da sociedade civil”, afirmou Juliette Rosseau, coordenadora da rede Coalition Climat 21 ao jornal Le Monde (leia mais no box no fim da reportagem). Ela também esclareceu que 2.173 atividades estão sendo preparadas no mundo inteiro para o dia 29/11, inclusive 57 grandes marchas nas maiores cidades do mundo. Reuniões de última hora vão procurar alternativas à grande marcha que estava prevista em Paris, cidade catalisadora do movimento global (saiba mais).

“O importante é que os atentados não mudem a prioridade, que agora é o clima. Se deixarmos o clima sair da cena, as consequências serão piores do que os ataques”, comentou Jon Palais, do movimento cidadão francês Alternativa. “É difícil imaginar a COP sem mobilização da sociedade civil, seja qual for o formato”, disse.

Alguns setores da sociedade civil criticaram as medidas de segurança. “Proibindo as manifestações na COP21, Hollande está silenciando aqueles que estão sofrendo os piores impactos da mudança climática e sua monstruosa violência”, declarou Naomi Klein, intelectual canadense autora do livro “Isso muda tudo: capitalismo vs clima”. Klein criticou o governo francês em declaração ao jornal The Guardian. “Os eventos da sociedade civil não são um anexo do evento oficial, são parte essencial do mesmo” (leia mais).

Em reunião com o Laurent Fabius, as organizações não governamentais envolvidas na COP21 conseguiram o compromisso do ministro de ajudar na segurança dos grandes eventos da sociedade civil que foram mantidos: o Fórum Clima e a Cidade das Alternativas, no bairro de Montreuil, entre 5 e 6/12, e a Zona de Ação Climática, no centro cultural Centquatre, entre 7 e 11 de dezembro. O espaço Climate Generations, no Le Bourget, organizado pelas ONGs e aberto ao público geral, também vai funcionar (leia mais).

A informação é de que não haverá medidas excepcionais nas aduanas para as pessoas que virão à França. O importante será ter em mãos o passaporte e os documentos que mostrem a participação nos eventos vinculados à COP21 (saiba mais sobre trâmites para acompanhar a conferência).

Recuperar as ruas

Os atentados de Paris provocaram duas reações diferentes na França. Por um lado, a lógica oficial de declarar a guerra ao Estado Islâmico, atacar a Síria e decretar o estado policial. Por outro, a lógica cidadã de recuperar a rua como espaço de liberdade e de direitos.

No domingo depois do atentado, apesar da recomendação das autoridades aos cidadãos de Paris de ficarem em casa, milhares de pessoas percorreram os lugares do atentado deixando flores, acendendo velas e colocando mensagens de paz e solidariedade em muros e calçadas. Os cafés e terraços ficaram cheios e os músicos tocavam instrumentos nas ruas.

Por sua vez, o governo manteve o estado de emergência, agora ampliado a três meses, que restringe direitos e liberdades e está implementando medidas extras de segurança, inclusive com uma proposta de reforma constitucional. Muito do que está acontecendo na França lembra o período depois da queda das torres gêmeas nos EUA.

“Não podemos esquecer que a barbárie do terrorismo alimenta-se da nossa dependência do petróleo”, comentou Anne-Sophie Novel, blogueira conhecida na França da iniciativa Place To B, que concentra comunicadores e blogueiros sobre a questão do clima (leia mais).

Além disso, a mudança climática é um multiplicador de ameaças. O caso da Síria é emblemático: um milhão de deslocados internos decorrentes de uma seca histórica, entre 2006 e 2010, contribuíram à desestabilização do país, segundo Marine Frank, especialista de mudança climática da Agência para os Refugiados de Nações Unidas (ACNUR) (saiba mais sobre o problema dos refugiados do clima).

Quem está por trás das mobilizações internacionais?

A Coalizão Clima 21 foi criada, em 2014, pela RAC (Climate Action Network França), o CRID (a Centro Pesquisa e Informação sobre o Desenvolvimento) e ATTAC França (Associação pela Taxação das Transações financeiras e pela Ação Cidadã). Originou-se do fracasso da Conferência do Clima de Copenhague, em 2009, e do sequestro da Conferência do Clima de Varsóvia, em 2013, pelos interesses da indústria, o que causou a saída das ONGs da COP.

Hoje, reúne mais de 130 organizações da sociedade civil, sindicatos, associações de solidariedade internacional, incluindo organizações religiosas, ONGs de defesa dos direitos humanos e do meio ambiente e movimentos sociais. Essas organizações defendem que as negociações, embora um passo necessário, não serão suficientes para combater a desregulação do clima e as desigualdades decorrentes. Daí a necessidade de organização e mobilização da sociedade (saiba mais).

Carlos Garcia Paret, especial de Paris para o ISA
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