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Em 2018, 150 milhões de árvores foram derrubadas no Xingu - e o ano não acabou

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Isabel Harari

Desmatamento explode em uma das áreas de maior biodiversidade do mundo, com 100 mil hectares de floresta destruídos. Enfraquecimento de órgãos ambientais pode acelerar a devastação

Mais de 100 mil hectares de floresta, o equivalente a 100 mil campos de futebol, foram destruídos na Bacia do Rio Xingu, em 2018. A pressão por novas áreas para a expansão agropecuária, grilagem de terras, retirada ilegal de madeira e a expansão do garimpo provocaram a derrubada de aproximadamente 150 milhões de árvores no território amazônico, que engloba 21 Terras Indígenas (TIs) e dez Unidades de Conservação (UCs) contíguas, entre o Pará e o Mato Grosso.

De janeiro a setembro, mais de 32 mil hectares foram desmatados dentro de áreas protegidas - TIs e UCs. Indígenas, ribeirinhos e seus parceiros vêm denunciando as atividades ilegais e pedem ações mais efetivas dos órgãos ambientais de fiscalização e proteção, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). “O fortalecimento desses órgãos é essencial para garantir a integridade das áreas protegidas e principalmente das populações que vivem nesses territórios”, aponta Rodrigo Junqueira, coordenador do programa Xingu, do ISA.



A eventual extinção ou sucateamento do Ibama e do ICMBio pode, segundo Rodrigo Junqueira, “aumentar a ocorrência de atividades ilegais na Amazônia e acelerar o desmatamento na região até o ponto de não retorno, quando a floresta não consegue mais se regenerar”. Com 27 milhões de hectares, o "Corredor Xingu de Diversidade Socioambiental" incide sobre 40 municípios e é a morada de centenas de famílias ribeirinhas e 26 povos indígenas. As áreas protegidas são fundamentais para a proteção das florestas e dos territórios tradicionalmente ocupados, e se consolidaram como escudos contra a destruição.

Em manifesto lançado na última sexta feira (19), um conjunto de redes e organizações da sociedade civil alertou para os perigos do enfraquecimento ou extinção dos órgãos ambientais. Segundo o documento, assinado pelo ISA, isso pode colocar “em risco quatro décadas de avanços na proteção do meio ambiente”.[Leia na íntegra]

Por meio do Sistema de Indicação por Radar de Desmatamento (Sirad X), o ISA monitora mensalmente o desmatamento no Xingu. Os índices preocupam: apenas em setembro, 4.410 hectares de floresta foram destruídos. “Os números são assustadores e aumentam a cada mês”, alerta Juan Doblas, especialista em geoprocessamento do ISA. [Acesso aqui o boletim nº8]

Garimpo ameaça TI Kayapó

Desde janeiro o ISA monitora mensalmente o avanço da invasão garimpeira na Terra Indígena Kayapó, no Pará. Já foram mais de 864 focos de desmatamento na região, pequenos polígonos que correspondem a atividade de mineração ilegal.[Saiba mais nos boletins nº1, nº 3 e nº7 do Sirad X]


No final de agosto, o Ibama, em conjunto com a Polícia Federal, deflagrou uma operação de fiscalização de grande porte na região - a quinta realizada pelo Grupo Especializado de Fiscalização (GEF) nos últimos quatro anos. Ainda que a ação tenha conseguido desarticular uma quantidade significativa de frentes de mineração ilegal no interior do território, os focos de garimpo foram reativados no mês seguinte. Em setembro foram detectadas 28 novas áreas.

Os garimpeiros estão se deslocando cada vez mais para o interior da TI, contaminando rios e colocando a saúde da população indígena em perigo. A elevada cotação do ouro no mercado internacional sustenta essa atividade de forte risco e que implica em enormes prejuízos ambientais.“Entendemos que, no contexto atual, seria necessário manter uma presença permanente de agentes de fiscalização no território, assim como providenciar a destruição das principais vias de acesso às frentes de exploração no interior da TI”, aponta Doblas.

Curuá contaminado



A região de Castelo dos Sonhos, no sudeste do Pará, é conhecida por ser palco de violentos conflitos desde o início do processo de abertura da estrada BR-163, na década de 1970. Um dos grandes motivadores da violência foi, e continua sendo, o domínio sobre os garimpos de ouro da região.

O avanço dos garimpos no chamado Vale da Esperança, situado a 30 km do município, tomou proporções assustadoras nos últimos anos. O “Esperança IV”, o maior da região, localiza-se a apenas 40 km da Terra Indígena Baú, de posse imemorial do povo Kayapó.

O Rio Curuá, que corta a TI, está contaminado pelos sedimentos originados no garimpo, impossibilitando o uso da água para higiene, consumo humano e atividades cotidianas. “A vida nas duas aldeias ribeirinhas, Baú e Kamaú, está seriamente comprometida”, aponta Juan Doblas. Os indígenas e seus parceiros encaminharam denúncias aos órgãos federais competentes e pedem que medidas urgentes sejam tomadas para coibir a atividade ilegal.

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