Você está na versão anterior do website do ISA

Atenção

Essa é a versão antiga do site do ISA que ficou no ar até março de 2022. As informações institucionais aqui contidas podem estar desatualizadas. Acesse https://www.socioambiental.org para a versão atual.

Certificação orgânica avança nos quilombos do Vale do Ribeira (SP)

Esta notícia está associada ao Programa: 
Seis comunidades receberam certificados do Ministério da Agricultura. Jovens comemoram conhecimento tradicional e novas oportunidades de mercado
Versão para impressão




As comunidades quilombolas do Vale do Ribeira (SP) assistiram, em setembro de 2018, ao reconhecimento do Sistema Agrícola Tradicional Quilombola como patrimônio do Brasil pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

Agora, seis delas têm um motivo extra para celebrar: a produção de suas roças, fruto do sistema agrícola tradicional, foi reconhecida pelo Ministério da Agricultura como orgânica.

Ao todo, 46 agricultoras e agricultores dos quilombos André Lopes, Nhunguara, Piririca, Porto Velho, São Pedro e Sapatu já têm o certificado de Organização de Controle Social (OCS), e podem comercializar como orgânicos uma extensa lista de mais de 100 produtos de suas roças, de feijão a taioba.

Para baixar o livro Inventário Cultural de Quilombos do Vale do Ribeira, clique aqui.

O reconhecimento dá fôlego aos esforços de jovens quilombolas em transmitir o conhecimento tradicional para as próximas gerações e, ao mesmo tempo, comercializar a produção por meio a cooperativa local, a Cooperquivale (Cooperativa dos Agricultores Quilombolas do Vale do Ribeira).

"Com esse produto bom, a gente conseguiu acesso ao mercado pela cooperativa", disse o jovem agricultor, produtor familiar e quilombola Adan Rodrigo Trolesi Pereira, 30 anos, do quilombo Sapatu.

"Eu defendo a roça tradicional e o sistema agrícola quilombola porque é uma agricultura de qualidade. Meu filho de 3 anos anda comigo pelas roças e come o que quiser, porque a gente tem certeza que ele não vai se intoxicar com nada", afirmou.

Saiba mais sobre as roças de coivara no vídeo abaixo:

Além das seis comunidades já certificadas, outras cinco estão em processo de reconhecimento, o que deve beneficiar outras 70 agricultoras e agricultores.

As roças tradicionais dos quilombolas poderão, por exemplo, alimentar alunos da educação básica por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), em que 30% do valor repassado pelo governo federal deve ser investido na compra direta de produtos da agricultura familiar, e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que prevê a compra da produção de comunidades tradicionais.



"Com o reconhecimento da qualidade orgânica, são criadas novas oportunidade de comercialização para as comunidades", afirmou Mauricio Biesek, técnico do Instituto Socioambiental. "Isso agrega valor e dá mais visibilidade aos produtos da sociobiodiversidade."

Para Heloísa França, 28 anos, do quilombo São Pedro, a comercialização da produção é uma maneira de partilhar a riqueza das roças quilombolas. Ela, que faz parte da OCS Sementes do Campo, celebra a força do território e a oportunidade de levar os filhos às roças.



"Com base no território, a gente tem nossa produção, que é onde fazemos nossas roças de coivara, e dessa roça a gente gera nossa cultura. Tira o arroz, o feijão, a mandioca, a batata para a mesa da nossa casa e tira a semente para plantar, dá um pouquinho pro vizinho quando falta", disse a jovem agricultora.

"Sempre procuro levar meus filhos – um de 7 anos, outra de 3 – a me ajudar nas atividades. Tem um pezinho de couve que eles plantam, tem a hortelã que eles plantam, tem a cebola que eles plantam. Eles vão crescer, ver e se alimentar daquele produto. Vão ver como é lindo, como é interessante esse processo", afirmou.

O esforço das comunidades pela valorização de suas roças, no entanto, tem esbarrado na burocracia do governo de São Paulo, que precisa emitir autorizações de plantio no tempo correto e respeitar o modo de vida tradicional dos quilombolas – o que não tem acontecido.

O atraso na emissão das licenças gerou a campanha #TáNaHoradaRoça, com uma petição que já passa das 7 mil assinaturas. Faça a sua parte e assine a petição!

Roberto Almeida
ISA
Imagens: 

Comentários

O Instituto Socioambiental (ISA) estimula o debate e a troca de ideias. Os comentários aqui publicados são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião desta instituição. Mensagens consideradas ofensivas serão retiradas.