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Conselho das Aldeias Wajãpi faz relato sobre trabalho da Funai em território

Esta notícia está associada ao Programa: 
Indígenas acompanharam órgão em apurações sobre assassinato de cacique Emyra Wajãpi e invasores não indígenas na Terra Indígena Waiãpi
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O Conselho das Aldeias Wajãpi (Apina) divulgou nesta sexta-feira (2/8) uma quarta nota com as últimas informações sobre a invasão à Terra Indígena Waiãpi. Segundo o documento, representantes da Funai foram até a região para escutar os indígenas sobre as constantes invasões dentro do seu território.

Leia na íntegra:

Quarta nota do Apina sobre invasão da Terra Indígena Wajãpi

Nós do Conselho das Aldeias Wajãpi informamos que representantes de nossas organizações
acompanharam as equipes da Funai para a região do Mariry na manhã do dia 30 de julho de
2019. Uma equipe da Funai ficou na aldeia Karapijuty para aguardar a chegada de helicóptero
que ia para exumar o corpo do Emyra Wajãpi, mas foi adiada essa operação para a próxima
sexta-feira dia 02/8. Nós acompanhamos a outra equipe que seguiu para a aldeia central
Mariry para entrevistar testemunhas da aldeia Yvytõtõ que viram os invasores não-indígenas.

De tarde fizemos reunião com chefes e representantes da região do Mariry para explicar o
trabalho com a Funai de registro de depoimentos e começamos as entrevistas. As testemunhas
da aldeia Yvytõtõ, que fica próxima da aldeia Mariry, confirmaram que viram dois invasores
armados no final da tarde do dia 26 de julho. Disseram que logo depois que viram, os moradores
da aldeia Yvytõtõ mandaram duas pessoas para a aldeia Mariry informar sobre a presença dos
invasores e essa informação foi repassada pela radiofonia para várias aldeias na nossa Terra
Indígena Wajãpi.

Enquanto nós estávamos entrevistando nossos parentes na aldeia Mariry, fomos interrompidos
por duas mulheres avisando que tinham acabado de ver um invasor que passou correndo
beirando a casa em que estavam cozinhando. Os guerreiros da aldeia Mariry foram
imediatamente atrás dele, mas não encontraram rastro.

Depois voltamos para nossa reunião e os guerreiros ficaram vigiando os caminhos ao redor da
aldeia. No meio da reunião, dois agentes indígenas de saúde chegaram da aldeia Ytawa e
informaram que tinham passado pela aldeia Komakawyry onde viram que animais de criação
foram mortos e os objetos de uma casa estavam jogados. A família dessa aldeia tinha se mudado
para a aldeia Ytawa com medo dos invasores. Um dos agentes de saúde disse que seu filho tinha
ido até a aldeia Wyraury para avisar da presença de invasores e tinha falado que voltaria no dia 28 de julho, mas ainda não tinha voltado. Por isso ele disse que estava muito preocupado e iria atrás dele. Em seguida, eles saíram para a aldeia Ytawa.

Depois de alguns minutos, voltaram correndo dizendo que tinham achado pegadas do invasor
na lama do caminho e também tinham encontrado um pássaro juruti morto. Eles estranharam
porque esse juruti não tinha ferimentos e nós Wajãpi só matamos juruti com flecha. Por isso
desconfiaram que o invasor tinha matado o juruti com arapuca. Então eles levaram nossa equipe
para ver as pegadas, mas não seguimos os rastros porque já estava anoitecendo. As mulheres
que tinham visto o invasor correndo mais cedo falaram que ele tinha ido na direção desse
caminho. Conseguimos filmar e tirar fotos de uma pegada de sapato fechado, que nós não
usamos nos nossos caminhos. Nós Wajãpi sabemos muito bem ler pegadas porque somos
caçadores e todos concordaram que aquele rastro é de um invasor.

No dia 31 de manhã, nós fomos para a aldeia Yvytõtõ com o representante da Funai para fazer
a reconstituição dos depoimentos com as testemunhas. Nós filmamos quando mostraram os
lugares onde viram os invasores no dia 26 e os rastros de caminhos que eles fizeram na mata.
As mulheres disseram que avistaram dois invasores no final da tarde e que eles estavam
armados: um negro alto e outro mais baixo de cabelo encaracolado. Falaram que vestiam roupas
parecidas com as do exército. Falaram que de noite os invasores voltaram em quatro pessoas e
passaram algumas horas em casas desabitadas da aldeia. Nossos parentes falaram que eles se
comunicavam com sinais e usavam lanterna, os cachorros latiam muito. As mulheres fugiram
para a roça, estavam com medo de que matassem todas as famílias. Os homens ficaram em uma
casa distante observando a movimentação dos invasores, eles estavam muito preocupados e
não conseguiram dormir. Aproximadamente às 4 horas da manhã os invasores não-indígenas se
comunicaram entre si e foram embora.

Quando amanheceu no dia 27 de julho, nossos parentes abandonaram a aldeia Yvytõtõ e foram
para a aldeia Kanikani para se juntar com outras famílias. Até agora algumas comunidades da
região do Mariry estão deixando suas aldeias para se juntar com outras para se protegerem e as
mulheres estão com medo de ir para as roças. Nossos guerreiros estão fazendo equipes para
buscar rastros dos invasores e por isso não estão saindo para caçar. Isso está prejudicando muito a nossa vida, por isso nós precisamos urgente da presença permanente da Funai na aldeia
central do Mariry e que seja feita investigação com mais tempo de permanência da Polícia
Federal ou do Exército nesta região.

Todos registros de fotos e vídeos que fizemos estão com a equipe da Funai e também vamos
levar cópia até o Ministério Público Federal no Amapá.

Posto Aramirã – Terra Indígena Wajãpi, 1º de agosto de 2019.

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