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Covid-19: bebês Yanomami são internados às pressas em São Gabriel da Cachoeira

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Aldeia Maiá, no Amazonas, teve uma explosão de casos suspeitos e confirmados entre crianças; cinco foram transferidas de helicóptero para hospital do Exército
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Cinco bebês Yanomami da aldeia Maiá, localizada no estado do Amazonas, foram levados às pressas de helicóptero a São Gabriel da Cachoeira neste final de semana. No domingo (09/08), quatro chegaram à cidade com um quadro severo de desidratação. Três foram diagnosticados com Covid-19 e um ainda é tratado como caso suspeito, já que o pai foi contaminado. Um dia antes, uma menina de um ano e oito meses, também de Maiá, foi internada em São Gabriel com pneumonia e Covid-19.



Maiá, uma das 330 comunidades da Terra Indígena Yanomami, fica a uma hora de avião, ou aproximadamente 170 quilômetros da área urbana de São Gabriel. A terra Yanomami é a maior do Brasil, com 9,6 milhões de hectares distribuídos em oito municípios dos estados do Amazonas e Roraima. Ali vivem aproximadamente 26 mil Yanomami e Ye’kwana — 3% da população total.

Ontem, na chegada ao hospital, as quatro mães Yanomami foram recebidas pelo pediatra de plantão, José Antonio Candeia, do Hospital de Guarnição (HGU), gerido pelo Exército. O médico demonstrou surpresa com a chegada da Covid-19 na aldeia Maiá — uma das mais isoladas da TIY. “Quem levou esse vírus para lá, meu Deus?”, questionou o médico ainda na recepção. Acompanhados pela enfermeira do DSEI-Yanomami Eliane Sanches, que fala a língua Yanomami, os bebês foram internados com diarreia e vômito. Segundo ela, são os “sintomas de Covid-19 que as crianças de Maiá estão apresentando”.

A enfermeira conta que, como Maiá é uma das comunidades mais distantes atendidas pelo DSEI-Y, há um grande desafio logístico para a remoção de pacientes. Outro ponto de tensão é o histórico de doenças entre os Yanomami e Ye’kwana, que sofrem com os efeitos da malária e da precária estrutura de saúde. “Associadas à Covid-19, doenças predominantes na primeira infância dos Yanomami podem evoluir para casos mais complicados. Temos também um surto sazonal de diarreia em crianças na Terra Indígena Yanomami, o que é preocupante com a [chegada da] pandemia”, avaliou.

Riscos do fluxo aldeia-cidade

Ao todo, seis crianças, sendo cinco Yanomami e uma da etnia Baré — moradora da cidade —, estão internadas com Covid-19 no hospital de São Gabriel. A cidade teve melhora no controle da pandemia e comemorava o fato de não ter internações pela doença desde a primeira quinzena de julho. “Isso mostra que pode ser muito perigoso voltar às aulas na região. Tem muitas crianças se infectando”, alertou Candeia. Segundo o pediatra do HGU, recentemente crianças da área urbana foram atendidas com o novo coronavírus, mas estão se recuperando em casa com quadro menos agudo.

Além dos cinco bebês transferidos, outras seis crianças estão internadas na aldeia Maiá, com administração de soro, segundo Patrícia Nunes, do DSEI-Yanomami. Ainda não há diagnóstico de Covid-19, mas todas têm sintomas da doença, afirmou a enfermeira pelo telefone público da comunidade.

De acordo com Eliane, que acompanhou os bebês a São Gabriel, alguns Yanomami de Maiá foram à cidade para sacar benefícios sociais e acabaram levando a Covid-19 para a aldeia. Outro ponto preocupante vem sendo a Casa de Apoio (barracão) do povo Yanomami, um potencial foco de contaminação de Covid-19 devido às condições sanitárias e estruturais precárias. “Observamos que, após a passagem deles por São Gabriel e Santa Isabel do Rio Negro, houve um foco de contaminação comunitária na aldeia. A partir daí, começaram a aparecer casos complicados, com necessidade de remoção para o hospital”, disse a enfermeira.

As remoções dos bebês tiveram acompanhamento e apoio do Comitê Interinstitucional de Enfrentamento à Covid-19 de São Gabriel da Cachoeira, inclusive durante os voos entre Maiá e o HGU, operados pelo Exército brasileiro (Segunda Brigada de Infantaria de Selva) e pelo DSEI-Alto Rio Negro. Como o único helicóptero que presta serviço para o DSEI-Y fica na região de Surucucu, em Roraima, o suporte logístico foi fundamental para prestar atendimento emergencial às crianças. O Instituto Socioambiental (ISA) e os Médicos Sem Fronteiras também apoiaram com logística terrestre e medicamentos.

Juliana Radler
ISA
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