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Sesc lança livro sobre a cultura do povo Baré, do Alto Rio Negro

Esta notícia está associada ao Programa: 
No próximo dia 31 de março, o Sesc lança em São Paulo, Baré: o povo do rio que traz depoimentos de dois líderes da etnia baré, do Alto Rio Negro, somados a textos de diversos pesquisadores e etnólogos. O evento inclui exibição de documentário homônimo. A organização é de Marina Herrero e Ulysses Fernandes
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As Edições Sesc São Paulo lançam o livro Baré: povo do rio, com fotos e textos de dez autores, na Choperia do Sesc Pompeia, no próximo dia 31 de março (terça-feira), às 19h. O evento inclui a exibição de documentário homônimo produzido pelo Sesc TV, além de bate-papo entre os líderes baré Braz França e Marivelton Barroso e o antropólogo e etnólogo Eduardo Viveiros de Castro. Ao final haverá uma sessão de autógrafos com os principais autores do livro.

A história do povo baré, que originalmente ocupava um território de mais de 165 mil km2, foi marcada pela violência e pela exploração do trabalho extrativista. Gradativamente, o grupo viu sua língua vernacular (ariak) ser substituída pelo nheengatú, utilizado, na época da colonização do Brasil, pelos jesuítas para uniformizar a comunicação entre eles e as tribos da região do Rio Negro, e também pela língua portuguesa.

Aos poucos as crenças, costumes e tradições dos baré foram igualmente adaptados ao modelo português. Hoje, o povo que até 1990 era considerado extinto no Brasil, tornou-se a décima população indígena do país e vive próximo aos municípios de Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, região com uma forte desestruturação social e que sofre com a recente invasão de garimpeiros.

Com o objetivo de registrar e divulgar a cultura do povo baré, o projeto das Edições Sesc São Paulo se propõe a discutir sua identidade, suas memórias, histórias, costumes e experiências, bem como apresentar análises com viés acadêmico, pesquisas arqueológicas e depoimentos sobre suas lutas e conquistas.

O prefácio assinado pelo antropólogo e etnólogo americanista Eduardo Viveiros de Castro aborda a principal problemática identitária vivida pelos baré até muito recentemente, envolvendo o seu não reconhecimento como índios e tampouco como brancos: “eles não são mais índios sem serem por isso não índios, isto é, brancos. Não são nada. São o que mais convém ao outro dizer o que eles são. (...) Como sobreviver a tal metódico etnocídio, melhor, como ressurgir a partir dele, como refazer um povo? Como recuperar a memória e reinventar um lugar no interior do estranho, do estreito e instável intervalo entre “índios” e “não índios” que ora se abre, ora se fecha para os povos nativos do continente? Os baré são uma das respostas em ato, hoje, a essas perguntas”.

De fato, a tradição e a história da etnia baré foram preservadas graças à transmissão oral das narrativas míticas, ensinamentos e rituais sagrados “que não possuem comprovação registrada em livros ou cartórios”, conforme escreve o líder histórico Braz França Baré, ex-presidente da Foirn (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro). Seu texto é corroborado pela descrição do jovem Marivelton Barroso Baré, atual diretor da Foirn, que elenca “Encantados” como o Curupira, além de danças e rituais, histórias e a culinária que aprendeu com “os baré mais velhos” como exemplos da cultura oral desta etnia.

O livro avança com o texto de Eduardo Góes Neves, especialista em arqueologia da Amazônia da Universidade de São Paulo, que expõe a história antiga ou pré-história dos grupos indígenas da região. Em seguida, Paulo Maia Figueiredo, antropólogo e professor na Universidade Federal de Minas Gerais que viveu alguns anos entre os baré para estudar sua cultura e rituais, analisa a história recente e o xamanismo entre esses índios. O escritor e ensaísta argentino Guillermo David, por sua vez, apresenta uma crônica sobre os modos de existência baré, na qual observa o cotidiano dos baré com quem conviveu, e reflete sobre os paradoxos da indianidade no mundo atual e os modos especificamente baré de se relacionar com outras sociedades.

O posfácio fica a cargo de Beto Ricardo, antropólogo e coordenador do Programa Rio Negro do Instituto Socioambiental – ISA, que aborda as lutas e conquistas do movimento indígena do Rio Negro. Todos os textos são ilustrados com imagens registradas pelo renomado fotógrafo Pisco del Gaiso, que tem em seu currículo um vasto trabalho dedicado às populações indígenas e ribeirinhas.

A publicação estará à venda nas livrarias do Sesc .

Serviço
Lançamento do livro Baré: povo do rio
Exibição do documentário sobre os Baré
Data: 31 de março de 2015, às 19h
Local: Choperia do Sesc Pompeia
Retirada de ingressos a partir das 18h, na bilheteria do Sesc Pompeia.
Rua Clélia, 93 | Não dispõe de estacionamento

Sobre os organizadores
Marina Herrero é indigenista, ativista em direitos humanos e sociedades tradicionais em risco e coordenadora do programa Diversidade Cultural, na Gerência de Programas Socioeducativos do Sesc São Paulo. É graduada em dança e coreografia pela Escuela de Danzas Clásicas y Estudios Coreográficos e em música e violino pelo Conservatorio de Música del Teatro Municipal de Bahia Blanca, Argentina. Foi diretora e coreógrafa das companhias de dança Proposta, no Ballet Stagium, da Cia. da Rua, Ad Libitum e Tarantos – Cia. de Arte y Baile Flamenco. Assessorou a Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo na área de dança. É coautora do livro Jogos e brincadeiras na cultura Kalapalo (2010) e organizou a publicação Prêmio Culturas Indígenas I e II. Trabalhou como roteirista e pesquisadora para os filmes Kwarìp, mito e rito no Xingu e A vitória dos netos de Makunaimî e como argumentista e pesquisadora de Louceiras e Baré: povo do rio.

Ulysses Fernandes
é bacharel em Ciências Biológicas. Realizou pesquisa junto ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Hymenoptera Parasitóides da Região Sudeste Brasileira (INCT – HYMPAR/Sudeste), na Universidade Federal de São Carlos. É membro da SBE – Sociedade Brasileira de Entomologia e da SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Como indigenista, faz pesquisa de campo entre etnias do alto Xingu desde 1996 e da Terra Indígena Raposa Serra do Sol – RR (macuxi, wapichana e taurepang) desde 2009. Realizou também trabalhos junto aos kariri-xocó e fulni-ô de Alagoas e Sergipe, os baré do alto e médio rio Negro (AM) e as etnias wayana-apalai (norte do Pará, Suriname e Guiana Francesa), resultando na publicação de três livros e produção de cinco documentários em longa metragem e um em curta metragem.

Sobre os autores
Beto Ricardo é antropólogo e coordenador do Programa Rio Negro do Instituto Socioambiental – ISA. Um dos fundadores do CEDI – Centro Ecumênico de Documentação e Informação, onde idealizou e coordenou o projeto Povos Indígenas no Brasil (1978-92), foi membro da coordenação da campanha pelos direitos indígenas na Constituinte (1996-98) e um dos líderes da luta contra as barragens do rio Xingu (1988-89). Recebeu o Prêmio Ambientalista Goldman/92. É sócio fundador da CCPY – Comissão Pró-Yanomami, do NDI – Núcleo de Direitos Indígenas, do Instituto Socioambiental – ISA, do projeto Vídeo nas Aldeias, do IDS – Instituto Democracia e Sustentabilidade e do Instituto ATÁ.

Bráz França Baré
é presidente/fundador da ACIBRN - Associação das Comunidades Indígenas do Baixo Rio Negro (1988-90). Foi presidente da FOIRN – Federação das Organizações Indígenas (1990-96) e coordenador geral do convênio do DSEI/FOIRN (2002-04). Ocupou os cargos de administrador adjunto da Funai – Fundação Nacional do Índio (1999-2002) e de coordenador operacional da demarcação das terras indígenas do alto e médio Rio Negro pelo Instituto Socioambiental – ISA (1998-99).

Eduardo Góes Neves é arqueólogo com atuação em pesquisa e educação em arqueologia amazônica. É graduado em História pela Universidade de São Paulo e doutor em Arqueologia pela Universidade de Indiana. No Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, é professor titular de arqueologia brasileira e coordena o Programa de Pós-Graduação em Arqueologia e o Laboratório de Arqueologia dos Trópicos. É professor do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Amazonas, pesquisador do Cesta – Centro de Estudos Ameríndios da USP e coordenador do grupo de pesquisa “Ecologia Histórica dos Neotrópicos”, do CNPq. Presidiu a SAB – Sociedade de Arqueologia Brasileira (2009-11) e compôs a diretoria da SAA – Sociedade de Arqueologia Americana (2011-14). É membro do Conselho Assessor da Fundação Wenner-Gren de Pesquisas Antropológicas e editor da Revista de Arqueologia da Sociedade de Arqueologia Brasileira.

Eduardo Viveiros de Castro é etnólogo americanista, com experiência de pesquisa na Amazônia. Doutor em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com pós-doutorado pela Université Paris X, é professor de etnologia no Museu Nacional/UFRJ, professor titular de antropologia social na UFRJ e membro da equipe de Recherche em Ethnologie Américaniste do CNRS – Centre National de la Recherche Scientifique, da França. Recebeu os prêmios de Melhor Tese de Doutorado em Ciências Sociais da ANPOCS (1984), Médaille de la Francophonie da Academia Francesa (1998), Prêmio Erico Vanucci Mendes do CNPq (2004), Ordem Nacional do Mérito Científico (2008) e Doutorado Honoris Causa pela Université Paris Ouest Nanterre La Défense (2014). Entre suas publicações, destacam-se From the Enemy’s Point of View: Humanity and Divinity in an Amazonian Society (1992), A inconstância da alma selvagem (2002) e Há mundo por vir? Ensaio sobre os medos e os fins (2014, com Déborah Danowski).

Guillermo David
é escritor e tradutor. Curador do Museu Nacional de Gravura de Buenos Aires, foi diretor do Museu Histórico de Bahía Blanca e curador da Biblioteca Nacional da Argentina. É autor dos livros Witoldo – O la mirada extranjera (1998), Carlos Astrada – La filosofía argentina (2004), Perón en la chacra asfaltada (2006), El indio deseado – Del dios pampa al santito gay (2009), Ulmen – El imperio de las pampas (2011), Lenguaraces egregios – Rosas, Mitre, Perón y las lenguas indígenas (2013) e Antonio Berni: Juanito y Ramona (2014). Traduziu obras de Proust, Gramsci e Raymond Williams, entre outros. Colabora com diversas publicações periódicas sobre temas culturais, particularmente sobre a questão indígena na Argentina e em toda a América.

Marivelton Barroso Baré
é diretor da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro – FOIRN. Atuou como coordenador do Projeto Diagnóstico Participativo do Médio Rio Negro da Associação das Comunidades Indígenas do Médio Rio Negro – ACIMRN (2011), onde também foi secretário do Departamento de Adolescentes e Jovens Indígenas (2007). Foi membro pesquisador do levantamento de dados para o dossiê do Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro “Patrimônio Imaterial Brasileiro dos Povos Indígenas do Rio Negro” (2009) e secretário da Coordenadoria das Associações Indígenas do Médio e Baixo Rio Negro – CAIMBRN (2009-12).

Paulo Maia Figueiredo
é graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais e doutor em Antropologia Social pelo PPGAS/Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Desde 2010, é professor adjunto da Faculdade de Educação da UFMG. Desenvolve trabalhos na área de antropologia, com ênfase em etnologia sul-americana e educação indígena, tendo realizado pesquisa de campo com os baré (Alto Rio Negro). Também é um dos idealizadores e coordenadores do forumdoc.bh – Festival do Filme Documentário e Etnográfico – Fórum de Antropologia e Cinema, realizado anualmente desde 1997 pela Associação Filmes de Quintal em parceria com a UFMG em Belo Horizonte.

Pisco Del Gaiso é fotógrafo. Nos anos 1990, fotografou para a revista Trip e o jornal Folha de S.Paulo, onde recebeu o prêmio internacional King of Spain. Especializou-se em futebol na revista Placar, onde trabalhou até a Copa do Mundo de 1998. Em 2004, lançou o livro Turismo rural brasileiro. Iniciou, em 2010, a produção do ensaio “Cuniã, o lago da menina” em Rondônia. Dedica-se também à fotografia publicitária e documentários em vídeo, incluindo projetos pessoais como um curta-metragem sobre o pintor Manuel Gibaja, para o Cine Amazônia, e a história da sanfona de oito baixos.

(Com informações da assessoria de imprensa do Sesc São Paulo)

(Com informações do Sesc SP)
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