Coletivos de povos e comunidades reunidos na Semana da Sociobiodiversidade participaram de sessão solene no Congresso e se uniram ao ato “A Resposta Somos Nós”, ampliando vozes e se conectando à agenda da COP30
Um mutirão de povos e comunidades tradicionais marcou o Dia Internacional da Amazônia, nesta quinta-feira (04/09), em Brasília, antecipando em um dia a comemoração da data. Cerca de 450 representantes de coletivos de povos indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais, extrativistas, extrativistas costeiros marinhos e agricultores familiares, reunidos na Semana da Sociobiodiversidade lotaram o plenário da Câmara dos Deputados em sessão solene. Depois, se juntaram a outros povos no ato “A Resposta Somos Nós”, na Esplanada dos Ministérios.

Durante a solenidade foi entregue aos deputados a Carta da Sociobiodiversidade, onde os povos reforçaram coletivamente o seu protagonismo no enfrentamento à crise climática e também para a economia do país e cobraram políticas públicas adequadas às realidades dos territórios. E deixaram claro que querem espaço e voz na COP30 para terem reconhecimento efetivo de seus modos de vida e produção como promotores da regulação climática. Na sexta-feira, o documento também foi entregue a representantes do Governo Federal, entre eles a secretária Nacional de Bioeconomia, Carina Pimenta.
As principais demandas são: proteção territorial e regularização fundiária; garantia de participação na COP30, em Belém, com participação nos debates e reconhecimento do protagonismo dos povos no enfrentamento à crise climática; apoio financeiro e tributário, com criação do Seguro Climático e implementação do Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), entre outros; ampliação e adequação de políticas públicas; políticas específicas e adequadas para gênero e juventude.
Dione Torquato, secretário geral do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), pontua que para avançar na política socioambiental é preciso um tripé formado por uma estrutura adequada do Estado que possa dar suporte aos povos e comunidades tradicionais; orçamento para a execução das políticas nos territórios; e políticas públicas adequadas.
“Temos uma pauta em comum, que é a manutenção do nosso modo de vida, das nossas culturas, a compreensão da nossa inter-relação com o território, mas cada um dos povos tradicionais tem uma especificidade. Na Amazônia, existem várias amazônias dentro do mesmo bioma, assim como os maretórios e dos outros biomas, e as políticas precisam se adaptar”, diz.
Sessão solene
No início da tarde de quinta-feira, o plenário da Câmara dos Deputados foi tomado por uma diversidade de povos e coletivos da Amazônia e outros biomas. Júlio Barbosa, presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), falou da emoção de ver os extrativistas reunidos no Congresso.
“Essa população que está aqui na nossa frente mostra, de fato, como a Amazônia deve ser valorizada, com a nossa biodiversidade garantida e com a proteção da floresta e do nosso povo”, disse.
A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, participou da Sessão Solene e falou da importância dos povos e comunidades tradicionais na preservação da floresta. “A Amazônia é mais que o bioma floresta, é um sistema vivo que regula o clima e guarda a maior biodiversidade do planeta e é sustentada pelos modos de vida ancestrais e fruto do manejo, do cuidado e convivência harmoniosa dos povos indígenas, quilombolas, extrativistas ao longo dos séculos”, disse
Ela trouxe ainda os retrocessos do Congresso Nacional em relação à legislação ambiental. Um dos exemplos é o PL da Devastação, aprovado em maio pelo Congresso, mas que teve vetos do presidente Lula.
Também presente na sessão, o diretor-adjunto do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), Marcos Woortmann, informou que cerca de dois terços dos atos legislativos recentes no Brasil foram contrários aos interesses do meio ambiente.
Na mesa também estavam Alana Manchieri, Assessora Internacional, Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), e Ângela Mendes, presidente do Comitê Chico Mendes e filha de Chico Mendes, símbolo da luta pela Amazônia.
Logo após a sessão solene, foi realizado o ato que reforçou a “Declaração do Mutirão dos Povos da Amazônia para COP 30: A resposta somos nós”, construída coletivamente pelos movimentos durante o Mutirão dos Povos, realizado em Belém em julho.


Com mensagens como “Território protegido, Brasil soberano” e “Amazônia livre de petróleo e gás”, realizaram uma marcha na Esplanada dos Ministérios.
Semana da Sociobiodiversidade
Brasília foi palco, entre 1º e 5 de setembro, da segunda edição da Semana da Sociobiodiversidade, que levou para o centro da política nacional as demandas de povos e comunidades tradicionais.
Com mais de 450 participantes, o encontro reúne organizações extrativistas de diferentes regiões do país que atuam nos segmentos socioprodutivos da borracha, pirarucu, castanha-da-Amazônia e pesca artesanal em Reservas Extrativistas Marinhas e Costeiras.
Dados do Observatório das Economias da Sociobiodiversidade (ÓSocioBio) mostram a importância do setor. Em 2023, os produtos da sociobiodiversidade geraram R$17,4 bilhões e criaram 525 mil postos de trabalho. Além disso, o setor protegeu 60 milhões de hectares, o que demonstra sua contribuição direta para a preservação ambiental.
As economias da sociobiodiversidade têm se mostrado vitais inclusive para assegurar o desenvolvimento das demais cadeias produtivas da economia nacional, da agricultura à geração de energia, uma vez que esses setores dependem do equilíbrio de chuvas e da qualidade dos solos e da água. O manejo desses povos e comunidades garante a produção de alimentos ao mesmo tempo que protege o meio ambiente, contribuindo para o equilíbrio e promovendo biodiversidade, cuidado com a água e regulação climática.
“A mobilização nacional reforça que povos extrativistas, indígenas, quilombolas e ribeirinhos não são apenas guardiões da floresta, do mar e dos territórios, mas também protagonistas de soluções concretas para a crise climática e para um modelo de desenvolvimento mais justo e sustentável”, destaca a secretária-executiva do Observatório das Economias da Sociobiodiversidade (ÓSocioBio), Laura Souza.
Organizada pelo Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) e pela Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas Costeiras e Marinhas (CONFREM), em parceria com o Observatório das Economias da Sociobiodiversidade (ÓSocioBio), a semana teve o apoio de diversas instituições, entre elas o Instituto Socioambiental (ISA).