Coletivo da Terra do Meio (PA) também deve cobrar financiamento e políticas públicas adequadas aos territórios
“A Rede Terra do Meio somos nós, beiradeiros, indígenas e agricultores familiares. Somos mais de 35 organizações, nove territórios indígenas, três reservas extrativistas e, ainda, comunidades agroextrativistas cuidando de cerca de nove milhões de hectares de área protegida.”
Essa fala da comunicadora Marta Gomes faz parte do minidocumentário “Rede Terra do Meio - Economias dos povos protegem a floresta e inspiram o futuro”, que retrata a aliança dos povos que atuam na região da Terra do Meio (PA), promovendo os modos de vida e as economias da sociobiodiversidade. São as economias dos povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais, que produzem fartura de alimentos, geram renda e, ao mesmo tempo, protegem a floresta, promovendo a biodiversidade, o cuidado com a água e a regulação climática.
E a Rede Terra do Meio levará essa potência até a COP30, com seus integrantes participando de mesas e debates, mostrando a comercialização de produtos como a castanha, a borracha e o babaçu, mas também ampliando diálogos sobre políticas públicas adequadas aos territórios e mecanismos de financiamento que possam cuidar e fortalecer os guardiões da floresta.
No domingo (09/11), o diretor-presidente da Rede Terra do Meio, Francisco de Assis Porto, e a comunicadora Marta Gomes, participaram da mesa “Sociobioeconomia Revelada”, no Museu Emílio Goeldi, em Belém.
O encontro trouxe para o debate o que a arqueologia e os conhecimentos ancestrais revelam sobre a contribuição das economias de povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais para a formação das paisagens e regulação climática. Também participaram da conversa o arqueólogo Eduardo Neves e o diretor da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), Hélio Lopes.
Na quarta-feira (12/11), na AgriZone, espaço da Embrapa na COP30, é a vez de Liliane Santos, do Coletivo Olhos do Xingu, representar a Rede Terra do Meio na mesa “Clima, comida e saberes - Estratégias e políticas que salvaguardam Sistemas Agrícolas Tradicionais, promovem soberania alimentar e contribuem para o equilíbrio climático”.
O diretor-presidente da Rede Terra do Meio, Assis Porto, considera que a COP30 é um espaço muito importante para mostrar a força da economia dos povos da floresta. Mas, também, para buscar o reconhecimento dos serviços que vêm sendo prestados por esses povos milenarmente, com sistemas de produção e manejo que convivem com o meio ambiente.
Dessa forma, as discussões envolveram a necessidade de políticas públicas adequadas aos territórios. Um dos exemplos vem da Política de Aquisição de Alimentos (PAA), que após adequações, vem se mostrando eficaz na promoção das roças tradicionais, levando à proteção do meio ambiente.
Entre novembro de 2023 e julho de 2025, as entregas do PAA pela Rede Terra do Meio envolveram 11 territórios e 537 fornecedores, sendo 63% mulheres. Foram entregues 150 mil kg de alimentos de 76 tipos. O número de escolas atendidas chegou a 61.
A Rede Terra do Meio também vem desenvolvendo um piloto de Pagamento por Serviço Ambiental (PSA), em parceria com o Governo do Pará. E criou o Fundo Terra do Meio para captação de recursos e decisões coletivas sobre investimentos.
Os resultados desse manejo e das ações da Rede aparecem nos números. Em 2009, a Rede Terra do Meio movimentava anualmente R$8,5 mil e trabalhava com apenas três produtos. Em 2024, esses números passaram para R$2,1 milhões e pelo menos 86 produtos.
Para o analista sênior em economia da sociobiodiversidade do Instituto Socioambiental (ISA) e membro da secretaria executiva da Rede Terra do Meio, Jeferson Camarão Straatmann, para além da comercialização, a Rede Terra do Meio mostra que é possível promover uma economia da diversidade e do envolvimento.
“É uma economia que fortalece os laços entre os povos. A região da Terra do Meio é um arranjo de povos indígenas, comunidades tradicionais, ribeirinhos, beiradeiros e agricultores familiares, que tem como objetivo primeiro agregar as pessoas em função dos seus sistemas agrícolas tradicionais e seus sistemas de conhecimento. Por meio da comercialização desses produtos, potencializa-se a continuidade desses saberes, de uma geração para outra, transformando florestas em florestas, promovendo a proteção da água, cuidado da biodiversidade e regulação climática”, diz.
Ao final do documentário, a liderança indígena Ney Xipaya resume o principal motivo do fortalecimento das economias da sociobiodiversidade. “Vou permanecer dentro do meu território, junto com a minha família, com meus ancestrais, e manter o legado que é do meu patrimônio cultural, que é a minha história, a minha identidade.”
Serviço
Mesa “Clima, comida e saberes - Estratégias e políticas que salvaguardam Sistemas Agrícolas Tradicionais, promovem soberania alimentar e contribuem para o equilíbrio climático”, com Liliane Santos, do Coletivo Olhos do Xingu, representando a Rede Terra do Meio
Quarta-feira (12/11), das 11h20 às 13h55
Agrizone da Embrapa - Belém - Auditório A3
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