Filme relata as estratégias de enfrentamento à Covid-19 dos povos que vivem no Alto Rio Negro (AM), na Amazônia
“Neste mundo que vivemos, dentro da nossa terra, existem pessoas que benzem para o bem e para o mal.
Eles se chamam benzedores e kumuã (pajés) na nossa cultura.
Nossos sábios já preveem no destino das pessoas, quem ocupa o papel dos benzedores e pajés.
Assim, ao longo de suas vidas, eles são preparados para atuar e usar essa sabedoria.
Nossos avôs, nossos ancestrais, transmitiram a sabedoria para esses conhecedores.
E assim eles guardam com eles esses benzimentos que foram repassados pelos mais velhos.
Assim nós estamos vivendo nessa terra.
E enquanto estamos com vida nesse plano, a nossa morada é aqui com essa cultura.”
Nildo Fontes, povo Tukano
A narrativa acima – falada na língua Tukano, uma das línguas indígenas dos povos do Alto Rio Negro (AM), na Amazônia, e traduzida para o português – abre o minidocumentário Cura, que trata das práticas e estratégias utilizadas pelos indígenas no enfrentamento à Covid-19.
Dirigido pelo documentarista Christian Braga e pela jornalista Juliana Radler, analista de políticas socioambientais do Instituto Socioambiental (ISA), o filme foi lançado em fevereiro deste ano em São Gabriel da Cachoeira – onde foi filmado.
Em São Paulo, o lançamento será nesta sexta-feira (05/04), na loja Floresta no Centro, do ISA, e em 19 de Abril, Dia dos Povos Indígenas, em parceria com a Escola de Saúde Pública da USP. O filme traz narrativas e vivências de indígenas que atravessaram a pandemia e se fortaleceram mesmo enfrentando a precariedade das respostas oficiais.
Cura está sendo lançado com a a quinta edição da Aru - Revista de Pesquisa Intercultural da Bacia do Rio Negro, Amazônia, e com o podcast A Nova Doença dos Brancos. Juntos, os três produtos compõem o especial Memoráveis: resistência, estratégias e saberes indígenas no combate à Covid-19 no Rio Negro.
Rituais, benzimentos, chás com plantas dos quintais e da floresta, sem dispensar a medicina não indígena e seus recursos, fizeram parte de um conjunto de práticas que, segundo os próprios indígenas e profissionais que trabalham junto a esses povos, salvaram vidas.
Além de ser um importante registro sobre o cenário pandêmico em uma das regiões mais preservadas da Amazônia e em áreas remotas da floresta, o documentário traz a reflexão sobre a necessidade do reconhecimento oficial da medicina indígena.
E propõe, inclusive, os meios para isso, com a criação de unidades que possam unir saberes. Também trata do efeito da exploração predatória do ambiente sobre a saúde do planeta.
As filmagens aconteceram no final de 2020, quando a primeira onda da Covid-19 arrefeceu na região, e tiveram início na comunidade Serra de Mucura, no Rio Tiquié, na Bacia do Rio Negro.
Quem nos conta a maior parte da história é a liderança indígena Nildo Fontes, do povo Tukano, vice-presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn). A narrativa é complementada pelo antropólogo e assessor do ISA, Dagoberto Azevedo, do povo Tukano, falecido em 2023 e homenageado no documentário.
O filme contou com o conselho editorial formado pelo antropólogo do ISA, Aloisio Cabalzar, Dagoberto Azevedo, Nildo Fontes e Juliana Radler e foi realizado em parceria pelo ISA e Foirn.
Assista ao filme!
Ficha técnica
Direção: Christian Braga e Juliana Radler
Roteiro: Christian Braga
Produção: Juliana Radler
Assistentes de produção: Paulo Desana e Mauro Pedrosa Tukano
Fotografia: Christian Braga
Assistente de fotografia: Paulo Desana
Imagens de apoio: Greenpeace Brasil
Montagem: Fred Siewerdt e Christian Braga
Finalização: Christian Braga
Animação: Brunno Lobato
Entrevistas: Juliana Radler
Tradução/transcrição: Akira Oettinger
Conselho editorial: Aloisio Cabalzar, Dagoberto Azevedo Tukano, Juliana Radler e Nildo Fontes Tukano
Tradução (Tukano-Português) – Dagoberto Azevedo Tukano
Narração de Nildo Damião - defumação no Serra de Mucura no encontro de conhecedores
Serviço
Lançamento Especial Memoráveis
Loja Floresta no Centro (ISA)
Data: 05/04, às 19h
Endereço: Av. São Luiz, 187 - Galeria Metrópole - Centro Histórico de São Paulo / SP
*Roda de conversa com a socióloga e liderança Elizângela Costa, povo Baré, e com o antropólogo Aloisio Cabalzar.
Faculdade de Saúde Pública da USP
Data: 19/04 - Dia dos Povos Indígenas, às 16h
Endereço: Anfiteatro Paula Souza - Rua Dr. Arnaldo, 715 - São Paulo / SP
*Roda de conversa com a antropóloga e liderança Francy Baniwa e com a socióloga e liderança Elizângela Costa, povo Baré.