Um grupo de 15 indígenas Yanomami e Ye’kwana participou das conversas com objetivo de estruturar uma rede de cuidados da saúde da mulher
Quinze mulheres Yanomami e Ye’kwana que atuam como Agente Indígena de Saúde (AIS) na Terra Indígena Yanomami participaram, na última semana de maio, de uma formação em cuidados relacionados ao câncer de colo de útero em mulheres. A ação faz parte de um planejamento de estruturação da saúde para mulheres da maior Terra Indígena do Brasil.

As participantes vivem e atuam nas regiões de Auaris, Waikás, Kutadanha, Maturacá, Inambu e Nazaré. Entre elas, estava Jucelia Magalhães Rocha, jovem Ye’kwana de Fuduuwaaduinha.
“Eu vou chamar a comunidade toda, passar de casa em casa e fazer um roteiro no malocão para explicar como prevenir o câncer de colo de útero”, contou. Agente de saúde há quase três anos, Jucelia já perdeu duas parentes para a doença, incluindo sua tataravó. Este foi seu primeiro treinamento específico sobre o tema.
A formação foi promovida pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e o Distrito Especial de Saúde Indígena Yanomami (DSEI-Y), com apoio da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) e do Instituto Socioambiental (ISA).

Paralelamente, médicas, enfermeiras e técnicas do DSEI-Y também passaram por capacitação, com foco em abordagens ginecológicas adequadas às especificidades das mulheres indígenas.
“A pauta pela reestruturação da saúde da mulher vem sendo reivindicada historicamente pelas mulheres Yanomami e Ye’kwana e por isso integrantes do Dsei, da Unifesp/Projeto Xingu, UFMG, ISA e Hutukara se reúnem há pelo menos dois anos para pensar uma rede de atores em colaboração, para atender as reivindicações das mulheres Yanomami”, explica Manuela Sturlini, analista do ISA.
Marilene Gama da Silva, de Maturacá, trabalha como AIS há uma década. Habituada a atender outras mulheres indígenas, ela afirma que nunca precisou lidar com um caso de câncer de colo de útero, mas o treinamento vai ajudá-la a manter as parentes atentas aos cuidados para prevenir a doença.
“Tem sido muito importante e precisa dar continuidade para aprendermos e tirarmos dúvidas. Espero que aconteça mais vezes em outras regiões para ensinar como podemos trabalhar nas comunidades”, contou.

Marilene planeja fazer uma palestra ao retornar para Maturacá a fim de multiplicar as pessoas com informações sobre a prevenção do câncer do colo de útero em sua região.
Para Mariana Queiroz, coordenadora técnica do projeto “Construção da Linha de Cuidado do Câncer do Colo do Útero no DSEI Yanomami e Ye'kwana", é necessário construir estratégias que visem todas as etapas para prevenção da doença: rastreamento, diagnóstico e tratamento das lesões precursoras do câncer.
“Este projeto visa fortalecer a saúde das mulheres e combater um grave problema de saúde que é o câncer de colo de útero. Na região Norte, o CCU é o que mais mata mulheres, esses dados apontam as fragilidades no cuidado ofertado às mulheres desta região”, explicou.
Os processos descritos por Mariana fazem parte de um conjunto de ações que serão desenvolvidas ao longo de três anos. Como parte final da oficina, as Yanomami e Ye’kwana produziram uma cartilha informativa sobre saúde da mulher.