Dzoodzo Baniwa estava na hora e no lugar certos para documentar um evento climático extremo. Em vídeo-reportagem, ele denuncia a segunda cheia recorde em menos de um ano no Rio Ayari (AM)
O cenário de roças tradicionais inundadas, com prejuízos às populações ribeirinhas e indígenas, está se repetindo no Amazonas. Em 2021, o estado atravessou cheias e inundações recordes. Neste ano, o chamado inverno amazônico, que se acentua a partir de junho com a intensificação de chuvas, ainda nem bem começou, mas as cheias já estão causando danos.
Essa realidade vem sendo acompanhada de dentro do território indígena pelo olhar atento da liderança indígena Baniwa Juvêncio Cardoso, também conhecido pelo nome de benzimento Dzoodzo Aawadzoro. Ele divulgou em sua página nas redes sociais um vídeo mostrando roças inundadas pela cheia do Rio Ayari, afluente do Rio Içana, na Terra Indígena Rio Negro, município de São Gabriel da Cachoeira (AM). Segundo o relato do pesquisador baniwa, o rio já atingiu 50 cm a mais no comparativo com 2021.
A inundação das roças compromete a segurança alimentar das comunidades indígenas. Para garantir que parte da plantação não se perdesse, mulheres chegaram a mergulhar para colher a mandioca, que é a base alimentar da região e dá origem a uma série de produtos como farinha, beiju, tapioca e tucupi.
Segundo Dzoodzo Baniwa, a cheia volta a se repetir antes mesmo do período de um ano. “Em 2021, as famílias também foram impactadas. Faltavam 10 dias para completar um ano e a água do Rio Ayari voltou a tomar conta das roças”, descreveu. Ano passado, as cheias causaram prejuízos a 18 famílias em seis comunidades, com a perda de 30 roças. Em 2022, os levantamentos ainda estão sendo realizados, já que o período de cheias está apenas começando.
“Estamos numa das áreas mais preservadas da Amazônia, mas ainda assim ficamos com o prejuízo das mudanças climáticas. Queremos que o poder público e a sociedade civil organizada tomem medidas para nos ajudar”, disse.
Coordenador da Organização Baniwa e Koripako Nadzoeri, uma das cinco coordenadorias da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), Dzoodzo também é professor licenciado em física intercultural e mestre em ciências ambientais.
Ele vive na comunidade de Canadá e acompanha a situação na Bacia do Rio Içana, território tradicional dos povos Baniwa e Koripako, como liderança e colaborar de projeto de Monitoramento Ambiental e Climático na Bacia do Rio Negro. Ele ainda compõe a Rede de Agentes Indígenas de Manejo Ambiental (Aimas) e monitora os ciclos ambientais e socioeconômicos indígenas a partir das constelações.
Agora dá um passo adiante, denunciando praticamente em tempo real, com vídeos registrados por celular, eventos climáticos extremos e seus impactos na Amazônia.
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Dzoodzo vem mobilizando parceiros para receber apoio em doações que serão direcionadas às famílias atingidas e, ainda, realizar oficinas sobre o Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro, de forma a garantir a segurança alimentar dos povos que vivem nessa região. As oficinas serão realizadas no Centro de Formação e Monitoramento da Biodiversidade Enopana, vinculado à Escola Eeno Hiepole, que reúne alunos de todas as comunidades da calha do Rio Ayari e que recebem a merenda regionalizada com produtos da agricultura familiar, que conta com o incentivo do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).
Veja abaixo como contribuir:
Associação do Conselho de Gestão da Escola Eeno Hiepole (ACGEH)
CNPJ: 20.878.325/0001-18
Banco do Brasil
Agência: 1136-3
Conta Corrente: 29.308-3
Contato ou envio de comprovante: eenohiepole@gmail.com
Conheça a escola: https://eenohiepole.wordpress.com/quem-somos/