#ElasQueLutam! Uma das lideranças de maior projeção nacional e internacional, Soninha não mede esforços para garantir direitos e amplificar as vozes e visões dos povos indígenas
Perfil publicado originalmente em 20 de abril de 2021 e atualizado em 26 de maio de 2022.
“Não podemos arredar o pé da luta pelos nossos direitos”. Em 2021, quando a pandemia de Covid-19 não permitiu que os povos indígenas se reunissem em Brasília para a maior mobilização do movimento, o Acampamento Terra Livre (ATL), pelo segundo ano consecutivo, foi assim que Sonia Guajajara, coordenadora-executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) resumiu o momento. À época, o ATL 2021 seguiu virtualmente, ocupando redes e demarcando telas.
É esse tipo de atitude que dá o tom da trajetória de Soninha, como é carinhosamente conhecida. Na última segunda-feira (23), o compromisso com os direitos dos povos indígenas e com a luta do movimento indígena lhe rendeu um lugar na lista das 100 personalidades mais influentes do ano da revista Time. “É um reconhecimento da luta indígena global, que é coletiva e defende o futuro de toda a humanidade”, ela escreveu em sua conta do Twitter após a publicação da lista.
“Eu já nasci militando”, ela contou ao jornal Brasil de Fato. “Todo tempo eu queria encontrar um jeito de contar como trazer essa história e essa vida dos povos indígenas para um conhecimento da sociedade”. Formou-se em Letras e Enfermagem e atuou por muitos anos nas duas áreas. Mas, em 2001, participou do seu primeiro encontro nacional indígena e percebeu que sua missão seria se dedicar à luta coletiva dos povos originários.
Sonia começou na Coordenação das Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão (COAPIMA), onde ajudou a dar um fôlego cada vez maior ao movimento indígena do estado. Migrou então para a vice-coordenação da Coordenação dos Povos Indígenas da Amazônia (Coiab) e, ao fim dos quatro anos de mandato, foi eleita para a coordenação da Apib. Hoje, ela talvez seja a liderança feminina de maior projeção nacional e internacional, e não mede esforços para garantir direitos duramente conquistados e amplificar as vozes e visões dos povos indígenas.
“Nós estamos aqui para fazer diferente e mostrar a Terra como a Mãe Terra, esse bem sagrado, que precisa de cuidado, que dá sustento e que garante a vida”, afirmou ao Instituto Escolhas. “O desafio só cresce e agora é como se a gente voltasse de novo para o início, de retomar a briga pela demarcação dos territórios, que, para nós, é a bandeira de luta maior e principal dos povos indígenas”.
Em quase duas décadas de mobilização, Sonia alçou voo, assumiu posições de destaque e ajudou a fortalecer a presença feminina no movimento indígena e em outros espaços. Atualmente, como gosta de lembrar, já vê muitas outras colegas à frente de associações indígenas e até mesmo atuando na política partidária. Nas eleições presidenciais de 2018, Sonia foi candidata a vice na chapa de Guilherme Boulos (PSOL). “Eu não tenho dúvidas de que o resultado político da minha candidatura motivou e abriu muitos caminhos para outras mulheres se candidatarem”, disse ao jornal O Globo.
“Estamos aqui demarcando o nosso território, nosso espaço de fala, nossa participação enquanto mulher guerreira. A nossa voz precisa ecoar pelo mundo”, avisou, em discurso durante a 1ª Marcha das Mulheres Indígenas. Sempre ao lado de suas companheiras, as mulheres da terra, das águas e das florestas, Soninha ajudou a fundar a ANMIGA, a Articulação Nacional das Mulheres Indígenas – Guerreiras da Ancestralidade, que une os saberes, tradições e resistências das indígenas de todo o país.
“A gente não vai desistir”, salientou à agência Pública. “Não há outro jeito de a gente continuar vivo, de a gente continuar existindo, se não for por meio da luta”.
#ElasQueLutam é a série do ISA sobre mulheres indígenas, ribeirinhas e quilombolas e o que as move! Acompanhe no Instagram