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O que vem da Amazônia não pode ser exótico

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Chefs, pesquisadores e estudantes de gastronomia da FMU debatem cadeias produtivas, acesso aos ingredientes da floresta e ameaças aos territórios indígenas, extrativistas e quilombolas
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Cerca de 60 estudantes de gastronomia reuniram-se nesta quarta-feira (24/05), em São Paulo, para acompanhar a mesa redonda "Pensando a Amazônia para o Século 21", realizada pelas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), em São Paulo.

O evento, parte do IV Encontro da Hospitalidade da universidade, reuniu chefes de cozinha e pesquisadores, com participação de Jeferson Straatmann, do Instituto Socioambiental (ISA), para debater o futuro da gastronomia brasileira e a necessidade de um olhar mais atento das futuras gerações às cadeias produtivas amazônicas e seus desafios frente à exploração predatória dos territórios.

"A gente sai já pensando em como fazer um TCC (trabalho de conclusão de curso) sobre algum produto da Amazônia. Foi inspirador”, disse Letícia Almeida, de 20 anos. Em mãos, a estudante contava com os livros Xingu: Histórias dos Produtos da Floresta e Pimenta Jiquitaia Baniwa, publicados pelo ISA e parceiros.

"O que a gente sente é que usar produtos brasileiros melhora nossa autoestima. A gente tem de dizer sim ao que é produzido aqui", afirmou Mayane Christina da Silva, 21, formada em gastronomia pela FMU, que buscava conhecer melhor os produtos da floresta. "Acredito muito na força da produção local de alimentos. É preciso que a gente tenha mais conhecimento sobre o que coloca na mesa", acrescentou a colega Gabrielly Santos, 22.



A resposta dos estudantes reverberou o debate realizado na mesa, que trouxe exemplos de como é possível mudar o panorama atual da alimentação no Brasil com iniciativas que ampliem o conhecimento sobre as cadeias produtivas estruturadas por indígenas, extrativistas e quilombolas.

"Eu gostaria que o exótico fosse o produto de fora, e não os produtos da Amazônia. A gente ainda precisa explicar aquilo que é nosso", ponderou a chef Ana Luiza Trajano, pesquisadora do Instituto Brasil a Gosto, parceiro da FMU.

"A Amazônia que eu gostaria de ver, e que consegue estar na mesa de grandes restaurantes e cursos de gastronomia, precisa ser conhecida de todos os brasileiros. Devemos fazer trabalhos com políticas públicas, mas a transformação da cozinha brasileira depende de nós mesmos", afirmou.

Jeferson Straatmann, coordenador do projeto Territórios da Diversidade Socioambiental do ISA, apoiado pela União Europeia, apresentou a campanha Da Floresta para a Merenda!, realizada em dezembro de 2017 pelo instituto e parceiros na região de Altamira, no Pará, com a participação da apresentadora Bela Gil e da nutricionista Neide Rigo.

"O desafio dos chefes de cozinha é trazer um uso dos produtos que agrade aos paladares. Isso coloca as comunidades em um novo patamar da nossa sociedade, que é o patamar que elas merecem: de atores da construção e da preservação dos territórios, e da promoção do conhecimento vivo", afirmou.

Sociobiodiversidade e autoestima

A palavra que permeou todo o debate sobre gastronomia e o futuro da Amazônia foi autoestima. Para os pesquisadores, o entendimento do valor das cadeias produtivas amazônicas, do conhecimento tradicional associado e do monitoramento e preservação dos territórios garante uma sociobiodiversidade única no mundo que deve ser motivo de orgulho.



"A culinária mais genuinamente brasileira é a amazônica, graças a uma pré-história rica e aperfeiçoada ao longo do tempo", afirmou o historiador Ricardo Maranhão. "É uma biodiversidade tão extraordinária que temos que reconhecer que é um privilégio", disse Mara Salles, chef do restaurante Tordesilhas, em São Paulo.

Trilhando o mesmo caminho, Ana Luiza Trajano fez um apelo aos estudantes de gastronomia. "Nosso sotaque e nossa comida fazem parte do que a gente é. Na decisão de vocês, com o futuro da gastronomia nas mãos, optem por estar na luta pela gastronomia brasileira."

Jeferson Straatmann, do ISA, mostrou os motivos para seguir no caminho por uma gastronomia que tem como princípio o acesso a alimentos limpos de agrotóxicos trazidos ao mercado por meio de negociações justas e transparentes. "As escolhas que vocês vão fazer sobre esses ingredientes faz muita diferença na conservação e promoção dos territórios, bem como das comunidades que protegem a biodiversidade no Brasil", disse.

Roberto Almeida
ISA
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