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Tawary Titiah denuncia ataques na Terra Indígena Caramuru-Paraguassu, no sul da Bahia

Jovem liderança dos índios Pataxó Hãhãhãe relata invasões para retirada ilegal de madeira e incêndio criminoso em suas terras
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Tawary Titiah é Pataxó Hãhãhãe. Tem 24 anos. É uma jovem liderança em formação. Esteve em dezembro do ano passado na COP-21 em Paris, onde participou de debates sobre as ameaças aos direitos indígenas no Brasil. Na manhã desta segunda-feira (11/7), em uma entrevista coletiva em São Paulo, ele denunciou ataques e ameaças que seu povo, os Pataxó Hãhãhãe vêm sofrendo. A região no sul da Bahia, aliás, sofre com conflitos de ordem fundiária, assassinatos, desmatamento e toda sorte de violência faz muito tempo.

Há duas semanas, um agricultor familiar avisou os indígenas que havia ruído de motosserras na mata. “Fomos até lá e deparamos com gente tirando madeira próximo à nascente principal das nossas terras. Explicamos que não podia, que era Terra Indígena. Havia jagunços armados e eles nos ameaçaram. Corremos e eles atiraram”, relata Tawary. O cacique foi informado e a Polícia Federal avisada. Mas nada aconteceu.





Não bastassem o desmatamento, as ameaças e ataques, neste fim de semana, os madeireiros atearam fogo na mata bem na área da principal da nascente da TI, que vem diretamente da serra, para apagar os vestígios da derrubada das árvores. Foi na madrugada de sexta para sábado. De acordo com o relato de Tawary, a extensão da queimada foi muito grande e não se sabe quanto tempo a região da nascente vai demorar para se recuperar. “Para nós é como se tivéssemos sido enterrados, porque dependemos do rio e não sabemos se a nascente aguenta o tempo da recuperação”.



Depois da invasão dos madeireiros, os caciques procuraram o Ministério Público da Bahia para denunciar, mesmo enfrentando jagunços e pistoleiros armados que os ameaçam o tempo todo quando estão na cidade. “Queremos nossa comunidade de volta. Queremos ter paz, sossego e não estamos tendo. Estamos sendo massacrados”, alerta o jovem líder indígena. (Veja abaixo onde se localiza a TI Caramuru-Paraguassu).





A Terra Indígena Caramuru-Paraguassu, de 54 mil hectares, situa-se entre os municípios baianos de Pau Brasil, Itaju da Colônia e Camacuan. Foi demarcada entre 1926 e 1938, mas não foi homologada. De lá para cá, muitos fazendeiros se instalaram nessas terras dos Pataxó Hãhãhãe, com títulos doados pelo governo da Bahia, provocando conflitos com os indígenas. Em 1986, os Pataxó Hãhãhãe retomaram suas terras, que estavam degradadas por pastos e plantações de cacau. “Conseguimos recuperar o equilíbrio com a natureza”, explica Tawary. “Uma parte nós cultivamos para o nosso sustento. As outras nós conservamos”. Apesar disso, os conflitos pela posse da terra continuaram. Até que em 2012, uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) anulou os 186 títulos doados a fazendeiros, que tiveram de se retirar da Terra Indígena. Ainda assim, a tensão permanece na área.

Diante de outros jornalistas, Tawary agradeceu o espaço aberto para que ele falasse. “Queremos chamar a atenção porque não é só a área desmatada, são vidas que estão sendo destruídas”.
Que seu apelo encontre eco junto às autoridades.

Inês Zanchetta
ISA
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